Definir a nacionalidade e o seu lugar no mundo constitui, ainda hoje, tema crucial no pensamento social brasileiro. Sua abordagem exige reflexão sobre o conjunto de características culturais que conformam um sentimento de pertencimento e de identidade. Exige resposta à seguinte questão: “o que nos torna uma nação?”. A resposta é aparentemente simples – a cultural nacional. Contudo, distinguir os traços essenciais que compõem o perfil de uma nação não é suficiente para explicar o desenvolvimento de uma consciência de nacionalidade: o contato e a convivência permanentes com outras culturas são, para isso, condições indispensáveis.
Em primeiro lugar, pode-se dizer que a identidade nacional, como construção simbólica coletiva, reflete a herança histórica e cultural de um povo. O passado, a geografia, as tradições e os costumes compreendem o acervo cultural por meio do qual uma população se identifica e se particulariza perante outras nações. Compreendem, por assim dizer, a alma de um povo. Nesse sentido, todo país encontra em sua língua, em suas práticas culturais e – igualmente – em seus dilemas sociais, fontes de sua identidade. Dizer que somos brasileiros significa que compartilhamos um “caráter” nacional, legado de uma formação social específica, que se traduz em nossa maneira de organizar a vida social e de encarar o mundo.
Se, por um lado, é verdade que a identidade de uma nação repousa sobre seu acervo cultural, por outro, a tomada de consciência pela própria população se desenvolve no contato e intercâmbio permanentes com o “outro”, o diferente, o estrangeiro. Ora, definir os elementos que particularizam um povo implica necessariamente reconhecer suas diferenças em relação às outras nacionalidades; reconhecer, inclusive, seus vícios e suas carências. Trata-se, em outras palavras, de um exercício de alteridade, uma vez que da oposição entre o “eu” e o “outro” decorrem a percepção e a consciência de uma identidade singular. Nesse sentido, o “ser brasileiro” requer o seu oposto, o “não ser brasileiro”.
O Brasil é hoje uma das sociedades mais diversas do mundo. A pluralidade étnica e cultural compôs historicamente o perfil da nossa personalidade nacional. É verdade, porém, que nem sempre fomos orgulhosos disso. Na segunda metade do século XIX, influenciados pelo positivismo e pelo evolucionismo europeus, pensadores brasileiros, como Sílvio Romero e Nina Rodrigues, fizeram avaliações negativas do “ser brasileiro”, “atrasado”, mestiço e tropical. A sociedade brasileira era, nessa perspectiva, o exato oposto da européia, modelo ideal de civilização a ser imitado. Não é por outro motivo que, nos círculos políticos e intelectuais brasileiros, terminaria por ganhar força as teses de “embranquecimento” da população, segundo as quais apenas a imigração de brancos europeus seria capaz de “civilizar” o País. Em outras palavras, a imagem do Brasil era distorcida pelo anseio de parte de sua elite de se identificar com o mundo europeu e de por ele ser aprovado. A identidade nacional formava-se de fora para dentro.
Em meados de 1930, no contexto do movimento modernista, Gilberto Freyre sugere, entretanto, nova perspectiva da identidade nacional. Em Casa Grande & Senzala, Freyre descreve o processo de formação da sociedade brasileira, valorizando a miscigenação étnica e cultural protagonizada pelo colonizador português. O mestiço tornava-se, pela primeira vez, motivo de orgulho nacional. Mas a imagem real do País ainda não estava completa. Estava, por assim dizer, desfocado por uma ideologia -- a de que o Brasil vivia uma espécie de “democracia racial”. Como muitos autores viriam a denunciar posteriormente, dos quais se destaca Florestan Fernandes, essa ideologia encobrira problemas sociais, tais como a discriminação racial e a marginalização socioeconômica, que afetavam, e continuam a afetar, uma parcela significativa da nossa população.
O encontro do povo brasileiro consigo mesmo constitui um desafio permanente. Quem somos? O que aspiramos? A afirmação do Brasil no mundo depende da forma como respondemos a essas questões. Depende igualmente da construção de uma sociedade menos injusta, capaz de mitigar as enormes desigualdades sociais e regionais. Depende, por fim, de nossa inserção madura e soberana no cenário internacional.
Em primeiro lugar, pode-se dizer que a identidade nacional, como construção simbólica coletiva, reflete a herança histórica e cultural de um povo. O passado, a geografia, as tradições e os costumes compreendem o acervo cultural por meio do qual uma população se identifica e se particulariza perante outras nações. Compreendem, por assim dizer, a alma de um povo. Nesse sentido, todo país encontra em sua língua, em suas práticas culturais e – igualmente – em seus dilemas sociais, fontes de sua identidade. Dizer que somos brasileiros significa que compartilhamos um “caráter” nacional, legado de uma formação social específica, que se traduz em nossa maneira de organizar a vida social e de encarar o mundo.
Se, por um lado, é verdade que a identidade de uma nação repousa sobre seu acervo cultural, por outro, a tomada de consciência pela própria população se desenvolve no contato e intercâmbio permanentes com o “outro”, o diferente, o estrangeiro. Ora, definir os elementos que particularizam um povo implica necessariamente reconhecer suas diferenças em relação às outras nacionalidades; reconhecer, inclusive, seus vícios e suas carências. Trata-se, em outras palavras, de um exercício de alteridade, uma vez que da oposição entre o “eu” e o “outro” decorrem a percepção e a consciência de uma identidade singular. Nesse sentido, o “ser brasileiro” requer o seu oposto, o “não ser brasileiro”.
O Brasil é hoje uma das sociedades mais diversas do mundo. A pluralidade étnica e cultural compôs historicamente o perfil da nossa personalidade nacional. É verdade, porém, que nem sempre fomos orgulhosos disso. Na segunda metade do século XIX, influenciados pelo positivismo e pelo evolucionismo europeus, pensadores brasileiros, como Sílvio Romero e Nina Rodrigues, fizeram avaliações negativas do “ser brasileiro”, “atrasado”, mestiço e tropical. A sociedade brasileira era, nessa perspectiva, o exato oposto da européia, modelo ideal de civilização a ser imitado. Não é por outro motivo que, nos círculos políticos e intelectuais brasileiros, terminaria por ganhar força as teses de “embranquecimento” da população, segundo as quais apenas a imigração de brancos europeus seria capaz de “civilizar” o País. Em outras palavras, a imagem do Brasil era distorcida pelo anseio de parte de sua elite de se identificar com o mundo europeu e de por ele ser aprovado. A identidade nacional formava-se de fora para dentro.
Em meados de 1930, no contexto do movimento modernista, Gilberto Freyre sugere, entretanto, nova perspectiva da identidade nacional. Em Casa Grande & Senzala, Freyre descreve o processo de formação da sociedade brasileira, valorizando a miscigenação étnica e cultural protagonizada pelo colonizador português. O mestiço tornava-se, pela primeira vez, motivo de orgulho nacional. Mas a imagem real do País ainda não estava completa. Estava, por assim dizer, desfocado por uma ideologia -- a de que o Brasil vivia uma espécie de “democracia racial”. Como muitos autores viriam a denunciar posteriormente, dos quais se destaca Florestan Fernandes, essa ideologia encobrira problemas sociais, tais como a discriminação racial e a marginalização socioeconômica, que afetavam, e continuam a afetar, uma parcela significativa da nossa população.
O encontro do povo brasileiro consigo mesmo constitui um desafio permanente. Quem somos? O que aspiramos? A afirmação do Brasil no mundo depende da forma como respondemos a essas questões. Depende igualmente da construção de uma sociedade menos injusta, capaz de mitigar as enormes desigualdades sociais e regionais. Depende, por fim, de nossa inserção madura e soberana no cenário internacional.
Um comentário:
Eis um blog que faltava. Discute de maneira crítica a sociedade brasileira, com linguagem objetiva, clara e limpa, tornando sua leitura agradável, tanto pelo conteúdo quanto pela forma. Parabéns pela iniciativa, já me tornei um leitor deste espaço de discussões, que tende a crescer mais. Criarei um link no meu blog, interligando-o ao seu.
Abraços!
Paulo Eduardo Malerba
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