sábado, 9 de junho de 2007

Cem Anos de Solidão e O Poderoso Chefão: duas sagas inesquecíveis




"Cem Anos de Solidão", de Gabriel Garcia Marquez, foi um dos melhores livros que já li. Sem dúvida. É extraordinária a história da família Buendía. E Macondo é inesquecível. Trata-se de alegoria da história da América Latina, dominada pelas sangrentas lutas entre liberais e conservadores e pelo isolamento e esquecimento. O contato de Macondo com o exterior se restringe às visitas irregulares dos ciganos, portadores das inovações tecnológicas criadas ao redor do mundo (ver artigo "Realidade deu cores à fantástica Macondo").
Acabei de fazer o que é impossível: resumir um turbilhão de histórias fantásticas que encerram "Cem Anos de Solidão". É impossível, eu sei. Mas não foi sem propósito. Quero comentar apenas um trecho da obra que me despertou reflexão sobre tema crucial: o poder e a simplicidade. Talvez seja metafísico demais. Reconheço. Peço um pouco de paciência. De todo modo, o excerto é o seguinte:
“O Coronel Aureliano Buendía arranhou durante muitas horas, tentando rompê-la, a dura casca da sua solidão. Os seus únicos momentos felizes, desde a tarde remota em que seu pai o levara para conhecer o gelo, haviam transcorrido na oficina de ourivesaria, onde passava o tempo armando peixinhos de ouro. Tivera que promover 32 guerras, e tivera que violar todos os seus pactos com a morte e fuçar como um porco na estrumeira da glória, para descobrir com quase quarenta anos de atraso os privilégios da simplicidade”.
Outra história que me impressionou bastante foi a saga da família Corleone na trilogia de "O Poderoso Chefão". Dirigido por Francis Ford Coppola e baseado em romance do escritor Mario Puzo, a trilogia constitui a melhor anatomia do poder que já vi nas telas do cinema. Poucos discordam dessa avaliação. No filme, o poder se manifesta em tudo: nos gestos, na indumentária, no favor, na obediência, nas rivalidades e na violência. A trajetória de Michael Corleone (representado magistralmente por Al Pacino) é espetacular. E igualmente trágica.
Justamente aqui quero traçar o paralelo entre a vida do Coronel Aureliano Buendía, líder do Partido Liberal que enfrentou uma série de sangrentas batalhas sem saber plenamente qual a sua causa, e Michael Corleone, detentor de enorme poder construído às expensas daquilo que mais valorizava: a família. Foi trágico porque Michael estava consciente das agruras do poder, de que ele tentou, de certo modo, se livrar a fim de reconciliar-se consigo mesmo. A seqüência final de "O Poderoso Chefão III", realizada ao som da ópera Cavalleria Rusticana, explicita as conseqüências trazidas pela máfia. E a simplicidade da morte talvez tenha sido o único privilégio de que Michael gozou plenamente em sua vida...

Um comentário:

sensei allegro disse...

Interessante sua tentativa de traçar uma ponte entre o romance e o filme, mas sinto que falta elaborar melhor essa analogia. Mas não deixa de ser uma proposta corajosa, digna de todo meu respeito.

Vida longa aos diletantes!

Proleta-Solidário